Bombardear polos com armas nucleares ou criar um ímã gigante: as ideias mais avançadas para terraformação de Marte

Written by on 28 de agosto de 2024

Carl Sagan foi um dos primeiros cientistas a popularizar a ideia de fazer “engenharia planetária” em Marte

Aterrissar em Marte é a parte fácil dos nossos planos para colonizar o Planeta Vermelho. O que é realmente complicado é terraformar Marte para conseguir utilizar com propriedade suas reservas de água e torná-lo um lar menos inóspito. O vizinho da Terra possui enormes reservas de água, mas elas estão presas na forma de gelo por conta da temperatura média de -63ºC.

As baixas temperaturas devem-se ao fato de Marte ter perdido a maior parte da sua atmosfera, e quase tudo o que lhe resta é uma fina camada de dióxido de carbono. Os cientistas têm pensado há décadas em formas de aquecer a superfície do Planeta Vermelho para derreter a sua água, para que os colonos terráqueos possam habitá-la. Mas como fazer isso? Listamos abaixo as soluções que a comunidade científica tem estudado.

Marte (Imagem: NASA, ESA e Z. Levay/STScl)

Sagan e a fotossíntese

Carl Sagan foi um dos primeiros cientistas a popularizar a ideia de fazer “engenharia planetária” em Marte para que suas condições se tornassem semelhantes às da Terra. Num artigo publicado pela revista Science em 1973, ele escreveu que o transporte de um milhão a um bilhão de toneladas de material de baixo albedo para as calotas polares de Marte teria retorno dentro de algumas décadas.

Como alternativa, ele propôs a introdução de microrganismos ou plantas capazes de fotossíntese para liberar oxigênio e aumentar os níveis de dióxido de carbono na atmosfera marciana. No artigo ele esclareceu que “felizmente” era uma ideia inviável com a tecnologia da época.

Musk e o bombardeio nuclear

Elon Musk é um dos mais notórios defensores da colonização de Marte e da transformação da humanidade em uma espécie multiplanetária. A proposta favorita do empresário para terraformar Marte é detonar bombas nucleares em suas calotas polares para liberar dióxido de carbono e vapor de água, gerando um efeito estufa que aqueceria o planeta e, esperançosamente, criaria uma atmosfera mais densa.

Para além dos riscos óbvios da construção e lançamento de armas nucleares em escala interplanetária, o problema é a quantidade de gás carbônico armazenada no gelo seco dos polos de Marte. Isso porque apesar da alta quantidade, ela ainda pode ser insuficiente para desencadear um efeito de estufa sustentado por muito tempo.

Espelhos gigantes em órbita

Outra ideia que parece vinda de filme ou jogo de ficção científica da década de 1950 é instalar espelhos gigantes na órbita marciana, com pelo menos 250 km de diâmetro. O material reflexivo dos espelhos poderia direcionar a luz solar para os polos, aquecendo-os e liberando vapor e gases presos no gelo.

O conceito é semelhante ao bombardeio nuclear, mas sem a parte nuclear, obviamente. O desafio neste caso seria construir e colocar espelhos de 200 mil toneladas no espaço, além de não haver nenhuma garantia de que eles possam de fato desencadear um efeito duradouro.

Lançar “glitter” no céu

Um estudo recente explora a possibilidade de aquecer a superfície de Marte com aerossóis artificiais feitos de nanopartículas metálicas, uma espécie de “glitter” que pode permanecer durante anos na atmosfera marciana. O estudo propõe fabricar essas nanopartículas com materiais disponíveis em Marte, como alumínio e ferro, e lançá-las na atmosfera em aerossóis.

Essas nanopartículas espalhariam a luz solar em direção à superfície do planeta e bloqueariam a radiação infravermelha que tenta escapar de volta para o espaço, criando um efeito estufa artificial na atmosfera marciana.

Plantas geneticamente modificadas

Tal como Carl Sagan, alguns cientistas propõem uma solução biológica com a vantagem da biotecnologia atual: enviar plantas ou libertar organismos geneticamente modificados que possam sobreviver às duras condições marcianas e produzir oxigênio.

O desafio é duplo: criar superplantas capazes de resistir ao ambiente marciano, com a sua atmosfera quase inexistente, e fazê-las crescer no solo árido e pobre em nutrientes de Marte. Um estudo recente apontou uma espécie de musgo, Syntrichia caninervis, como nossa melhor chance.

Reações químicas

Outra ideia de método óbvio para aquecer Marte é introduzir gases com efeito de estufa na sua atmosfera. A amônia é um gás de efeito estufa muito poderoso que poderia ajudar a aquecer o planeta rapidamente se fosse liberada de sua superfície.

O problema é que a produção de amoníaco em Marte exigiria uma infra-estrutura gigantesca e seria um processo incrivelmente lento, provavelmente de milhares de anos, por isso alguns estão a propor uma abordagem futurista: trazê-lo de asteróides que estiverem próximos de Marte.

Criar um campo magnético artificial

Sem um campo magnético para protegê-lo, Marte esteve exposto durante milhões de anos a elevados níveis de radiação solar e cósmica que acabaram por condenar a sua atmosfera. Para evitar que isto continue a acontecer, o cientista da NASA, Jim Green, propôs a criação de um campo magnético artificial em torno de Marte que serviria como escudo contra o vento solar.

A ideia, tão ambiciosa quanto irrealizável com a tecnologia atual, seria instalar um ímã gigante no Ponto de Lagrange L1 entre Marte e o Sol, que gerasse um campo magnético suficientemente poderoso para preservar a atmosfera marciana até ter um impacto benéfico na habitabilidade de sua atmosfera.

Um aumento de temperatura de 30ºC

Embora a proposta de Sagan na década de 1970 fosse mais modesta do que algumas ideias posteriores, estudos recentes como o das nanopartículas provam que ele tinha razão ao afirmar que a redução do albedo de Marte (a sua capacidade de refletir a luz solar) aceleraria o aquecimento da sua superfície em algumas décadas.

Os modelos atuais mostram que é possível aumentar a temperatura de Marte em mais de 30 graus Celsius com um material que impeça a luz solar de escapar da sua atmosfera. Este aumento poderia então derreter o gelo marciano, permitindo a presença de água líquida na superfície do planeta.

Fonte: IGN Brasil


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